SEGUIDORES:

sábado, 26 de setembro de 2009

CATEDRAIS DE DENTRO

            Hoje vou falar de catedrais... Edificações fundamentais na vida de qualquer ser humano. Falarei da sua importância, dos materiais para construção (para fundações e acabamentos), e depois das dicas para construção; darei sugestões para seu funcionamento, seus serviços e suas rotinas.  Pretendo partir da minha própria experiência. Então, na verdade, são experiências de construção da minha catedral que eu vou compartilhar.  Isso é bem diferente do que seria uma aula técnica para construções e edificações. Ah, é bom ressaltar algumas características dessa catedral:
1-Ela não cresce para cima e para fora. Ela cresce para dentro e para baixo.
2-Não tenta alcançar o céu em torres magníficas, mas ela cria raízes profundas.
3-Não é espaço para multidões. É lugar de solidão.
4-Os eventos não obedecem á agendas ou horários, aliás, quanto mais profunda a catedral, mais intensos serão os serviços, podem durar as 24hs do dia.
5-Nada de coral ou grupos instrumentais. É música sem som, performance sem movimento.
6-Fala também não tem. Até porque a lei que impera nessa catedral é a lei do SILÊNCIO. Mas, mesmo sem fala e pregação, posso aprender a cada minuto do meu dia.
7-Sem introdutores ou equipes de relações públicas. Estarei sempre em casa, e na minha casa não preciso de ninguém que me diga onde sentar. Sei que sou bem-vinda sempre.
8-Sem diáconos, ou servos. Eu mesma me sirvo, pois a mesa está posta 24 hs por dia. Só não me saciarei se não quiser.
9-Nada de profecias e pretensos intermediários: minha fala é "discagem direta" com O GRANDE DEUS E PAI.
            A mística do encontro com Deus precisa da catedral de dentro, da edificação da alma, que se constrói no silêncio e na solidão. As grandes assembléias, dos templos de fora, falam em Deus, cantam de Deus, cultivam a relação entre as pessoas (e isso tudo é muito bom), mas eu tenho encontrado Deus no silêncio. E eu só consigo silêncio na solidão. Esse lugar maravilhoso e misterioso que eu cultivo como se fosse um templo para dentro de mim, onde só eu entro e Deus está lá, me aguardando sempre, e no nosso silêncio nos encontramos.  Queridos, num mundo onde ouvimos tantas falas, tantos sons, tantos modelos de templos pra fora, isso de repente gera confusão e uma perplexidade grande.
            Eu corro para dentro. Desço os degraus da minha alma, e cada descida é mais profunda que a anterior. E Deus fala a MIM, como fala a ninguém mais, pois Ele sabe o meu nome, conhece os meus pensamentos, conhece cada passo da minha vida e o trato d’Ele comigo é pessoal.
            Para além das gestões, das harmonias todas, funcionais ou não, das percepções, das monografias, das performances musicais, das teologias e estéticas, o que nos manterá, nos templos de fora, nas universidades, nos magistérios escolares, é a construção da catedral de dentro.
            Essa é uma obra que nunca acaba. E quanto mais avança é sempre para dentro, para o fundo da nossa alma. É nessa catedral que eu me encontro, que  aprendo a aceitar as surpresas da vida, nem sempre boas; que me consolo, que me reanimo, que me percebo, que me entendo, que contemplo absolutamente fascinada e perplexa o quanto Deus me ama, a ponto de ser Deus comigo, Deus em mim, e poder encontrá-lo na nossa "catedral de dentro", e lá ouvi-lo... Sentir o seu amor INCONDICIONAL, e viver experiências absolutamente pessoais e intransferíveis.
            Se chegarmos a este ponto, nada nos confundirá, nem nos decepcionará, nenhum escândalo nos abalará, pois saberemos em quem temos crido, e essa experiência, se alguém quiser questionar ou invalidar, nós saberemos o quanto vale, pois será fruto da nossa vivência com Ele, Emanuel, Deus conosco, Deus em nós.

            Bom, de resto, ou como disse Jesus "as outras coisas", todas continuam a acontecer, pois "O rio correrá para o mar e nada deterá o seu curso". Muitos terão filhos, construirão suas famílias, terão ministérios eficazes, serão grandes professores, grandes instrumentistas, com dores e prazeres, porque a vida é esse "caldo" todo mesmo.

            Mas o sentido virá sempre de dentro, do tempo que vc gasta para dentro, na edificação de dentro. E muito a propósito, gostaria de ler um poema de Emily Dickinson (1830-86): "Alguns guardam o Domingo indo à Igreja - / Eu o guardo ficando em casa - / Tendo um Sabiá como cantor - / E um Pomar por Santuário./ - Alguns guardam o Domingo em vestes brancas - / Mas eu só uso minhas Asas - / E ao invés do repicar dos sinos na Igreja - / nosso pássaro canta na palmeira./ - É Deus que está pregando, pregador admirável - / E o seu sermão é sempre curto. / Assim, ao invés de chegar ao Céu, só no final - / eu o encontro o tempo todo no quintal."
Stella Junia

Texto de minha querida Mestra retirado  de seu blog Stella Junia - "O rio corre para o mar..."
 _____________________________________________________________
            Dedico esse momento à memória de DELAZIR DA SILVA, minha mãe: figura silenciosa, discreta, misteriosa, cuja prioridade em vida era ir para o templo de dentro e seu maior desejo era permanecer no silêncio de Deus. Agora ela realizou o seu desejo, para além do eterno, e sei que ao invés de perguntas teológicas e curiosidades outras, ela deve estar apenas contemplando silenciosamente Aquele que foi o seu maior amor em vida: Jesus.

Nenhum comentário: