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sábado, 26 de março de 2011

ORAÇÃO DA MAÇANETA!

      "Não há mais bela música que o ruido da maçaneta da porta quando meu filho volta para casa.
     Volta da rua, da vasta noite, da madrugada de estranhas vozes, e o ruido da maçaneta e o gemer do trinco, o bater da porta que novamente se fecha, o tilintar inconfundível do molho de chaves são um doce acalanto, uma suave cantiga de ninar.
     Só assim fecho os olhos, posso afinal dormir e descansar.
     Oh! a longa espera, a negra ausência, as histórias de acidentes e assaltos que só a noite como ninguém sabe contar!
     Oh! os presságios e os pesadelos, o eco dos passos nas calçadas,
a voz dos bêbados na rua e o longo apito do guarda medindo a madrugada, e os cães uivando na distância e o grito lancinante da ambulância!
     E o coração descompassado a pressentir e a martelar na arritmia do relógio do meu quarto esquadrinhando a noite e seus mistérios.
      Nisso, na sala que se cala, estala a gargalhada jovem da maçaneta que canta a festiva cantiga do retorno. E sua voz engole a noite imensa com todos os ruídos secundários.
     Oh! os címbalos do trinco e os clarins da porta que se escancara e os guizos das muitas chaves que se abraçam e o festival dos passos que ganham a escada!
     Nem as vozes da orquestra e o tilintar de copos e a mansa canção da chuva no telhado podem sequer se comparar ao som da maçaneta que sorri quando meu filho volta.
     Que ele retorne sempre são e salvo, marinheiro depois da tempestade a sorrir e a cantar. E que na porta a maçaneta cante a festiva canção do seu retorno que soa para mim como suave cantiga de ninar. Só assim, só assim meu coração se aquieta, posso afinal dormir e descansar."
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